“Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e
quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria
água viva.” (Jo 4.10).
Jesus estava indo para a Galiléia por causa da perseguição dos judeus
em Jerusalém. Ele poderia passar pelo caminho do mar ou atravessar o
Jordão e fazer a rota normal dos peregrinos que vinham da Galiléia para
as festas em Jerusalém. Mas ele escolheu passar por Samaria, o que não
era “normal” para qualquer judeu, pois estes odiavam os samaritanos e
evitavam encontrá-los. O texto sagrado nos diz que “era-lhe necessário passar por Samaria” (v.4).
O seu amor, sua compaixão e a perfeita obediência ao Pai o fizeram
parar em Sicar, junto ao poço de Jacó, enquanto os discípulos iam à
cidade comprar comida (alimento para a viagem). João nos diz que ele
estava “cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta. Veio uma mulher de Samaria tirar água” (v.6-7).
A Bíblia não nos fala o nome dessa mulher, apenas nos informa a sua
procedência e cultura – “de Samaria”. Era quase meio-dia quando esta
jovem senhora se encontrou com Jesus. Neste horário, as outras mulheres
samaritanas estariam servindo a refeição para os familiares, arrumando a
“cozinha”, ou ainda lavando as “louças”. Aquele não era um horário
“normal” de se buscar água na fonte de Jacó. Possivelmente, aquela
mulher estava evitando olhares maldosos, comentários a seu respeito e
confrontos com outras mulheres da cidade.
Ela estava vivenciando o seu sexto relacionamento e não estava
casada, como o fizera nas outras cinco vezes… Ela se aproximava da fonte
com o seu cântaro, e vinha só… O Senhor Jesus estava ali, assentado
junto à fonte, como se a estivesse esperando chegar. Ela se curvou para
pegar água e então: “Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.” (v.7).
Sabemos que Jesus sempre está à beira do poço de Jacó, esperando
mulheres desesperançadas, frustradas e discriminadas, para lhes trazer a
verdadeira alegria de viver e para mostrar-lhes a “fonte de vida
eterna”.
Havia sobre aquela mulher os mais variados rótulos de discriminação.
1-Ela era apenas uma mulher – e as mulheres eram discriminadas nos cultos,
nas festas, nas assembleias. Os discípulos se admiraram de ver Jesus
conversando com uma mulher, mas não lhe perguntaram nada sobre o seu
diálogo com ela (v.27).
2-Ela era samaritana. A história dos samaritanos nos mostra que eles
eram estrangeiros, vindos de outras terras além do Eufrates. Eles tinham
sido enviados pela Assíria para ocuparem as terras dos israelitas
derrotados. “O rei da Assíria tomou a Samaria, e levou Israel cativo
para a Assíria; e fê-los habitar em Hala e em Habor junto ao rio de
Gozã, e nas cidades dos medos [...]” (2Rs 17.6). Esses israelitas,
pertencentes às doze tribos do Reino do Norte, Israel, cuja capital era
Samaria, nunca mais retornaram à sua terra. E os povos estrangeiros
enviados pelo rei da Assíria permaneceram ali, na terra de Israel, na
região de Samaria.
Os samaritanos eram “gente de Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate e Sefarvaim” (2Rs
17.24). E “sucedeu que, no princípio da sua habitação ali, não temeram
ao Senhor; e o Senhor mandou entre eles, leões, que mataram a alguns
deles”. Eles reclamaram com o rei da Assíria, que lhes mandou um
sacerdote de Israel para lhes ensinar a adorar o “Deus da terra”. Este
“lhes mostrou como deviam temer ao Senhor”.
“Porém cada nação fez os seus deuses, e os puseram nas casas dos
altos que os samaritanos fizeram, cada nação nas cidades, em que
habitava. E os de Babilônia fizeram Sucote-Benote; e os de Cuta fizeram
Nergal; e os de Hamate fizeram Asima. E os aveus fizeram Nibaz e
Tartaque; e os sefarvitas queimavam seus filhos no fogo a Adrameleque, e
a Anameleque, deuses de Sefarvaim. Também temiam ao Senhor; e dos mais
baixos do povo fizeram sacerdotes dos lugares altos, os quais lhes
faziam o ministério nas casas dos lugares altos. Assim temiam ao Senhor,
mas também serviam a seus deuses, segundo o costume das nações dentre
as quais tinham sido transportados.”
Deste modo, o culto dos samaritanos era sincrético. Uma grande
mistura de deuses e rituais diferentes dos judeus. Na reconstrução dos
muros de Jerusalém por Neemias, os samaritanos se opuseram e tentaram
com estratégias várias vezes impedi-los de cumprir sua missão. O ódio
dos judeus pelos samaritanos era visível em suas atitudes. Entretanto,
Jesus sabia que aquela mulher estaria naquela hora, naquele lugar
específico e ele precisava falar-lhe, mostrar-lhe o caminho da
verdadeira fonte, a que dá “água viva” e dá o sentido de viver.
Jesus lhe pediu de beber, assim como Eliézer pediu a Rebeca, no passado (Gn 24)… A mulher se assustou, dizendo: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?”. E o Senhor lhe respondeu: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (Jo 4.10).
É muito importante que o diálogo de Jesus com esta mulher girasse em
torno de “água viva”, “água que comunicasse vida, e trouxesse bênção”,
porque, no Antigo Testamento, as mulheres suspeitas de adultério
deveriam tomar as “águas amaldiçoantes” dadas pelos sacerdotes (Nm
5.11-31). O texto sagrado nos mostra o que aconteceria com a mulher em
adultério: “[...] a água amaldiçoante entrará nela para amargura, e o
seu ventre se inchará, e consumirá a sua coxa; e aquela mulher será por
maldição no meio do seu povo.” (Nm 5.27).
No seu diálogo, revelando-se como o “Messias prometido”, o “Filho de
Deus”, Jesus não recriminou e desprezou aquela mulher. Ao pedir-lhe para
chamar o marido, Jesus sabia que ela estava vivendo ilegalmente com o
companheiro, mas ele ofereceu-lhe uma vida nova. Uma nova oportunidade.
Um recomeço. Jesus também lhe entregou uma missão: a de anunciar que ele
era o Salvador, o “Messias”… E ela aceitou o desafio. E se tornou a
primeira missionária do Cristianismo, a anunciar entre os samaritanos de
sua cidade a “boa-nova” do Evangelho. Ali estava aquele que a perdoara,
mostrara o caminho e, ao invés de maldição pelo seu pecado, ele lhe
oferecia “água viva” para toda a eternidade.
Por causa do pecado, há tantos discriminados… Há tantos que
estão indo ao poço de Jacó para buscar uma água que não mata a sede da
alma… Há tantos que estão tentando preencher o vazio do coração com
relacionamentos, casamentos, prazeres, e coisas mundanas… mas nada disso
pode preencher esse vazio, somente Jesus. Somente ele tem a “Agua Viva”. Essa água representa o Espírito Santo que vem habitar em nosso
coração e flui em vida abundante.
Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva".
Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas. João 7:38
*Eliane Gomes
Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva".
João 7:38
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